Crise, acusações e intervenção: MGF diz que vitórias acalmarão tempestade Dirigente fala com exclusividade aborda o TOB, CT, acusações e intervenção. Confira a primeira parte da entrevista Por Raphael Carneiro e Eric Luis Carvalho Salvador 35 comentários Tarde da última quinta-feira, 23 de maio de 2013. Salvador ferve debaixo do sol de outono. A torcida do Bahia ferve ainda mais por causa dos últimos resultados da equipe. Mas, em um dos mais modernos prédios comerciais de Salvador, o clima não está tão quente. No meio do turbilhão da cidade, encontra-se todo o setor administrativo do Esporte Clube Bahia. A rigidez para entrar no local é tão grande que os porteiros precisam da indicação do que o visitante vai fazer e para qual sala ou consultório vai se dirigir. saiba mais Crise no Bahia: as duas faces da gestão Marcelo Guimarães Filho Ao saber da entrevista marcada com o presidente do Tricolor, Marcelo Guimarães Filho, a recepcionista do prédio provoca: ‘Vão entrevistar a ‘sardinha’?’. E é assim, com a felicidade do torcedor do Vitória, que a equipe é liberada para subir o elevador em direção ao andar azul, vermelho e branco. O tom ameno encontrado na portaria se repete na sede administrativa do Bahia. No espaço de mais de cinco salas encontra-se o coração tricolor. Ambiente imponente, todos os detalhes marcados com o escudo do clube e fotos de títulos, conquistas e ídolos espalhadas pelas paredes. Um grande escudo prateado carimba o local: da porta para dentro, todos respiram e vivem o Esporte Clube Bahia. No coração comercial de Salvador, o escritório do Bahia ostenta luxo (Foto: Eric Luis Carvalho) Apesar do momento delicado da equipe – perdeu o Baiano com direito a duas goleadas humilhantes para o maior rival –, o clima no local é tranquilo. Otimista, a secretária do presidente exala confiança no trabalho do novo diretor de futebol, Anderson Barros. De acordo com ela, o dirigente já chegou mudando estilos e implantando seu método de trabalho. - Nesse aí eu botei fé – vibra. A movimentação entre as salas é constante. Entra e sai fervoroso de funcionários. A espera pelo presidente é amenizada com a chegada de Binha de São Caetano. Torcedor simbólico do Bahia, ele entra no local e cumprimenta a todos. A impressão que passa é de que sua presença é comum na sede do clube. Demonstra intimidade até mesmo com aqueles que conhece no momento. Entre os casos contados pelo torcedor – que vão desde o movimento de oposição ao comportamento da imprensa no centro de treinamento da equipe – e o café oferecido pela funcionária do Bahia, chega o aviso de que o presidente está no local. A entrada do dirigente aconteceu por uma porta separada. Então, a equipe ao lado de duas assessoras de imprensa, é encaminhada para a sala de reunião do presidente. No ambiente, com janelas amplas e a visão para grande parte da cidade, encontram-se troféus (entre eles um de futevôlei), livros, uma televisão ligada em um canal de esportes e uma longa mesa com cadeiras decoradas com o escudo do Bahia. Marcelo Guimarães Filho logo entra no local acompanhado do vice-presidente de esportes amadores, Tiago Cintra, e cumprimenta a todos no local. O dirigente senta na cabeceira da mesa, de frente para a janela com a vista da cidade. Ao se acomodar, pede logo um papel em branco e um lápis, usado para rabiscar a folha durante toda a entrevista. Mas antes de começar a responder as perguntas pelos 55 minutos seguintes, Marcelo Guimarães Filho rebate a provocação da funcionária do prédio onde se localiza a sala do Bahia: - Era para você ter dito a ela que vai entrevistar o Salgueiro – diz em referência à eliminação do Vitória na Copa do Brasil pela equipe pernambucana, no dia anterior. A partir de então, as brincadeiras ficam de lado. O clima permanece ameno e o dirigente não se esquiva nem foge de nenhuma pergunta. Acusações da oposição, possível intervenção, marketing questionado, polêmicas na internet, erros e acertos no futebol. Marcelo Guimarães Filho fala sobre tudo isso e muito mais por quase uma hora. Na ponta do lápis: Marcelo Filho conversou por quase uma hora com (Foto: Eric Luis Carvalho) De boa oratória, Guimarães Filho usa o dom político e, com fala segura, discorre sobre vários temas, sempre tranquilo, bem humorado e sem demonstrar preocupação ou tensões. A entrevista na íntegra, com todos os quase 60 questionamentos feitos pelos repórteres Raphael Carneiro e Eric Luis Carvalho, pode ser conferida a partir de agora. As declarações do cartola tricolor foram divididas em duas partes. A segunda parte do bate-papo com o dirigente vai ao ar neste domingo no. O que você considera que foi o seu maior feito à frente do Bahia? Marcelo Guimarães Filho - Não tenho que falar um, porque acho que tem duas coisas que foram muito importantes. A volta à Série A, depois de tantos anos nas Séries B e C, a volta no campo, que se eu não me engano foi a única vez que isso aconteceu. Foi um feito importantíssimo. E a construção do CT, acho que isso vai ficar... Para o futuro do clube, é um marco que vai gerar muitos frutos. Com relação à volta para a Série A, você já esperava lutar para não cair por dois anos seguidos? Não. Não esperava que fôssemos brigar contra o rebaixamento. Não era esperado em dois anos, depois de sete anos nas Série B e C, disputar o título. Mas não era esperado lutar para não cair. Nós disputamos o campeonato mais difícil do mundo. Então não é fácil, você precisa ter todo um processo de reestruturação para conseguir brigar lá em cima na tabela. E tem uma série de fatores que eu já falei, distribuição de dinheiro, o calendário e tal. Te confesso que não esperava brigar para não cair. A gente tem obrigação, neste ano, de ter uma campanha mais digna, à altura da camisa do clube. O projeto do CT foi lançado em 2011, com promessa de ser concluído em um ano. No entanto, até agora o CT não está pronto. Quais os motivos deste atraso? Quando será inaugurado o CT? Deste ano não passa. Da última vez que a gente foi lá, estava praticamente pronto. Os atrasos eu reputo inicialmente à questão das licenças ambientais, que demoraram muito para sair. Mas aí é um processo que não dependia nem da gente nem da construtora. Teve um outro fator no que diz respeito a esses alvarás de licenciamento e construção, porque foram duas cidades que tiveram que dar os alvarás, tanto Dias D’Ávila quanto Camaçari. Então foi uma demora duplicada. E, depois, foram as demoras naturais com relação a uma obra, chuvas, etc... Mas o CT está praticamente pronto. Ainda ontem falei com o pessoal da OAS, e eles me disseram que estão planejando entregar já. A gente está devendo ainda essa visita da imprensa, que tem que fazer antes... Mesmo que esteja entregue, tem que fazer a visita antes para depois entregar (risos). Para MGF, CT e retorno à Série A são seus maiores feitos à frente do clube (Foto: Eric Luis Carvalho) Qual atitude que você tomou que você mesmo, como torcedor, criticaria? Um ato que como torcedor eu não faria? Difícil essa pergunta (risos). Sinceramente, não me lembro. Tenho algumas coisas como dirigente que eu não faria, mas não faria depois de ter feito e ter visto que não deu certo. Mas, como torcedor, não me lembro de nenhum fato, não. Só as derrotas normais que eu, como torcedor, olho para o espelho e falo: ‘Vou ter que dar um jeito nisso’ (risos). Pergunta cabeluda. Como torcedor, eu não teria feito a promessa de voltar para a Série A, aquela promessa de raspar o cabelo. Não faria aquilo de novo. Tive que raspar o cabelo... Demorei, mas raspei! (risos) Após a entrevista, a pergunta foi relembrada pela assessora de imprensa, e o presidente pensou em uma nova resposta: Acho que, como torcedor, não teria trazido Joel Santana de volta, mas falar depois do resultado é mais fácil. Na última eleição, a oposição criticou uma reforma do conselho do clube. Até por isso houve a intervenção. Como foi feita essa reforma, essa mudança de nomes do conselho? Na verdade, o que acontece? Não foi feita uma reforma. O estatuto do clube diz que o conselheiro – agora me fugiram os artigos -, mas diz que o conselheiro que faltar a três reuniões consecutivas ou a cinco alternadas e que não pagar durante seis meses suas obrigações está automaticamente excluído do quadro de conselheiros e precisa ser substituído por conselheiro suplente. O que nós fizemos foi isso, não foi uma reforma. A gente cumpriu o estatuto. É um direito de qualquer pessoa, inclusive de um dos conselheiros que saíram por conta disso, questionar na justiça essa saída. Mas não cometemos nenhum ato arbitrário. Eu vou depois pegar o estatuto aí para ver quais são os artigos especificamente, mas tem dois artigos que dizem isso. E nós cumprimos o estatuto. Aplicamos o estatuto com relação àqueles conselheiros que estavam ou inadimplentes ou tinham faltado às reuniões... Alguma coisa nesse sentido. Então o clube está tranquilo quanto à possibilidade de uma nova intervenção? Eu estou absolutamente tranquilo com relação a isso. Tanto que já houve mais de uma demanda na justiça com relação a isso, e em todas as vezes a gente ganhou. Porque mostramos que fizemos o que o estatuto mandava. E com relação à reivindicação do movimento ‘Bahia da Torcida’, de abertura dos sócios? Já houve a reforma para o sócio votar, mas com filtro. O que você acha disso? Pode mudar, pode haver uma democratização maior? Pode. Eu acho que a gente avançou nessa discussão, com relação à reforma do estatuto. Mas acho que a gente pode avançar mais, e não sou eu nem ninguém que vai bloquear essa discussão. Se a gente puder avançar mais, ótimo. Se há uma proposta de avanço em relação a isso, ótimo. Acho que os sócios realmente... Acho que é salutar e saudável que essa discussão esteja em aberto e que a gente possa avançar mais e que o sócio possa votar. Da parte do Bahia não tem nenhum problema. Vamos tocar, estou aberto a fazer isso. Acho que o movimento... Acho que a torcida tem que ter inteligência para perceber que muitas das pessoas que estão interessadas nesse debate estão interessadas em fazer com que os sócios... Com que o Bahia seja mais democrático, mais transparente – que é um debate saudável, volto a dizer. Mas tem pessoas também, evidentemente, que estão se aproveitando do momento que o time passa em campo para ter outros benefícios. Notadamente, um benefício político, de exploração política com relação ao assunto. Mas o Bahia está, vou dizer claramente para você, aberto e querendo fazer essa discussão. Essa discussão não pode parar. Não é porque nós fizemos uma reforma agora que a gente não vai mais discutir o assunto. Se há um movimento, se a maioria da torcida pensa isso, vamos retomar o assunto e avançar mais. Depois que eu cheguei no Bahia e no futebol, a gente conseguiu implantar uma metodologia de trabalho no departamento de futebol que não é mais do Bahia apenas. Então fica esse legado para o Bahia e para os outros clubes. É preciso profissionalizar o futebol. Óbvio que aí erros vão acontecer. Erros e acertos fazem parte do processo.e" Marcelo Guimarães Filho Uma de suas promessas, em 2009, foi a profissionalização do futebol. E realmente mudou a forma como se contratou diretores de futebol. Tentou Paulo Carneiro, depois Angioni e agora Anderson Barros. Qual a sua avaliação a respeito disso? Essa pergunta é muito boa. Eu acho que, depois que eu cheguei no Bahia e no futebol, a gente conseguiu implantar uma metodologia de trabalho no departamento de futebol que não é mais do Bahia apenas. Acho que os outros clubes também passaram a enxergar a fazer isso. A ter um departamento de futebol profissional. Nós tentamos isso com Paulo Carneiro. Assim foi com Paulo Angioni. É agora com a possível chegada aí do William, que a gente não bateu o martelo ainda, e do próprio Anderson Barros. Então fica esse legado para o Bahia e para os outros clubes. É preciso profissionalizar o futebol. Óbvio que aí erros vão acontecer. Erros e acertos fazem parte do processo. Eu acho que esse foi um dos avanços que a gente tenha conseguido implantar no clube, internamente, e nos outros clubes também. A gente precisa profissionalizar o futebol. Não dá para fazer mais aquele futebol amador, de torcedor, que é muito Bahia, mas que vai cuidar de futebol de 5h da tarde às 8h da noite, depois de resolver suas coisas. Hoje o departamento de futebol do Bahia é profissionalizado. E como vai ser esse novo esquema com William, com um novo cargo, abaixo do de Anderson Barros? Eu acho que fica mais eficiente o departamento. Ou seja, a gente não tem concentração de poder em uma pessoa só, porque isso acontece naturalmente com o passar do tempo. Você se instala numa empresa qualquer, passa muito tempo ali naquele cargo, vai ganhando poder, e as coisas vão se acomodando... Com duas pessoas, isso se torna mais difícil, porque com duas pessoas há um equilíbrio maior de forças. Acho que há um debate de ideias maior com relação a tudo: contratação, treinadores, trabalho do dia a dia. Eu acho que esse é o maior avanço. Por isso que partimos para essa ideia não só de mudar a pessoa, não foi só a saída do Angioni. Foi a saída, mas houve a mudança na estrutura. Agora temos um diretor, um superintendente e tem o próprio presidente. E qual seria exatamente a diferença entre o cargo do superintendente e o do diretor? O cargo de superintendente é um cargo mais estratégico. Vai pensar a estrutura do futebol como um todo. O futebol profissional, das divisões de base, do que a gente quer para o futuro, da montagem do elenco... E o diretor de futebol participa disso também, mas está mais na operação, no dia a dia com o jogador, com o treinador, cuidando das coisas diárias do departamento de futebol. Acho que a diferença fundamental é essa. Mas não vai haver uma departamentalização das ações. Tem que haver uma ação coordenada dos dois para poder funcionar. Então não vai ser algo de um estar submetido ao outro? Os dois estarão submetidos a você? É. Exatamente. Você concorda com as críticas de que o marketing está deixando a desejar? E, em relação à Nike, você trocou a Lotto, mas o torcedor reclama que houve uma perda da qualidade e do tratamento. E por que até agora não lançou a camisa de 2013? Vamos começar pelo final. A camisa de 2013 está pronta. Acho que a gente deve anunciar nesses próximos dias... Vamos definir uma data e anunciar para o torcedor. Está tudo programado já. Com relação à críticas ao marketing, concordo em parte. Acho que muita coisa foi feita. Mas eu entendo o torcedor, porque são coisas que ele não consegue enxergar. Mas acho que a gente tem que avançar mais, porque é uma área... Para um clube do Nordeste, para um clube como o Bahia, que orçamentariamente está distante dos clubes do Sudeste e do Sul do país, o marketing tem que ser mais bem trabalhado, porque é uma fonte de receita alternativa. Mas, como eu disse, acho houve avanços, com certeza. A gente trouxe, por exemplo, a Nike. A gente conseguiu o maior contrato de patrocínio da história, que foi com a OAS. O próprio contrato da Nike é o maior contrato de fornecimento de material que a gente já teve. São avanços que às vezes o torcedor não consegue enxergar, mas concordo que a gente precisa fazer mais. E uma reestruturação já está sendo preparada para a gente anunciar para o torcedor. Desde 2012, a nike fornece material esportivo para o Bahia (Foto: Nike / Divulgação) E em relação às críticas sobre material da Nike? Existe uma diferença de trabalho entre a Nike e a Lotto. A Nike é a maior empresa de fornecimento de material esportivo do mundo. Como a Lotto é uma empresa menor, que tinha uma operação diferente, havia com certeza um tratamento mais diferenciado ao Bahia. Não significa que a Nike despreze o Bahia, mas ela é uma empresa muito maior, que tem uma maneira de trabalhar diferente. Eu não acho que a gente tenha um material aquém da grandeza do clube. Acho que ela tem uma operação diferente da Lotto. A Lotto conseguia, por ser menor no Brasil, dar uma atenção maior ao Bahia – disso não dá para discordar. Mas a Nike nos dá a atenção devida. Estou satisfeito com o atendimento que ela presta ao Bahia e não acho que o material seja ruim, não. Se a gente pode trabalhar para ter um material melhor, vamos trabalhar. Acho que o torcedor, inclusive, vai estar feliz com o que vai ver. As camisas desse ano são camisas muito bonitas. E também tem um ponto específico, que eu preciso lembrar. O contrato que a gente fechou – o Bahia, o Santos, o Coritiba, o Inter e o Corinthians... Os contratos foram fechados nos últimos meses do ano, em outubro/novembro. E em dezembro as fábricas fecham. Então todos os uniformes desses clubes todos não tiveram tempo de serem trabalhados como eu acho que foram esses agora. Acho que, nesses uniformes que serão lançados, o torcedor vai ver um material melhor. Como está a negociação com a Caixa? Está caminhando. A gente espera fechar. Acho que não vai ter nenhum tipo de problema. Faltam alguns detalhes apenas. Mas há uma pressa da nossa parte, e pressa por parte da Caixa também. Acho que, depois da Copa das Confederações – estou dando um prazo longo –, pelas conversas, a gente já vai estar jogando com a Caixa. Pode ser que haja uma reviravolta no caminho, né? Não quero dizer que está certo, porque amanhã pode mudar isso (risos). Mas está tudo caminhando bem. A Caixa seria o patrocinador máster? Seria para patrocínio principal. A OAS ficaria aqui na omoplata e sairia daqui (aponta para a região do tórax). Mas sem perda financeira. A gente faz compensação com o prazo que a OAS vai ficar. A gente vai estender o prazo que a OAS vai ficar no uniforme. Sobre as acusações a respeito da relação do Bahia com a Calcio, qual a relação do clube com a empresa? Não tenho relação nenhuma com a Calcio. A minha relação pessoal é uma, como é com qualquer outro empresário. O clube também tem uma relação profissional normal. A Calcio não tem uma quantidade de jogadores diferenciada com relação aos outros parceiros. Nós não temos nenhum privilégio com relação à Calcio, volto a dizer. É uma empresa como outra qualquer. Nas últimas entrevistas que eu dei sobre isso, a gente tinha em torno de 30 a 40 parceiros. Hoje a gente tem quase 100 parceiros já, entre pessoas físicas e pessoas jurídicas. O número por si só já mostra que a gente não tem nenhum privilégio com relação a ninguém, e assim é com a Calcio também. Criou-se essa coisa da Calcio, a imprensa faz o trabalho de investigar e tal... Mas a própria investigação da imprensa mostrou até agora que não tem nenhum fato concreto, nenhuma ligação diferenciada com relação às outras empresas. Por falar em parceiros, se diz que o Bahia tem muitos jogadores de empresários como Carlos Leite e Eduardo Uram. Queria que você falasse um pouco sobre esse mercado de parcerias, se é importante para o clube... Acho que é importante o Bahia estar. Não tem como estar fora disso hoje. Clube que disser que não trabalha com empresário e com parceiro vai ter muita dificuldade. Porque todo jogador, a partir de 15 anos ou menos, já tem empresário, um parceiro, já tem algum representante que vai lá falar por ele. Então dizer que não vai trabalhar com parceiro é uma receita de fracasso. E eu penso que a gente tem que estar trabalhando com os empresário, inclusive, que tenham condições de trazer bons jogadores. Então Carlos Leite é um deles, mas tem uma série de outros. O Eduardo Uram por exemplo, que tem mais jogadores do que o Carlos Leite no Bahia hoje. Inclusive estava fazendo outro dia a conta... O Obina é do Eduardo Uram, o Lomba... E ainda tem mais uns três que são do Eduardo Uram. O Carlos Leite tem o Titi e o Souza. E tinha o Gabriel, que saiu. Em meio à crise, Anderson Barros chegou para substituir Angioni (Foto: Thiago Pereira) E agora com Anderson Barros, que desde o Botafogo era apontado como próximo a Uram, essa lista pode aumentar... É, tem alguns jogadores do Botafogo lá. O Pablo é um jogador do Eduardo Uram. Então ele tem mais jogadores hoje que o Carlos Leite no Bahia. Mas o Bahia tem que ter, no meu entendimento, parcerias com todos os empresários que possam trazer algum benefício ao Bahia. Não tem que ter privilégios para ninguém nem tem que ter preconceito com ninguém. Assim foi e assim será. O TOB e a Fonte Nova: como foi essa negociação para passar o TOB para a Fonte Nova? Em uma entrevista, eu usei uma palavrinha que foi, depois, bastante explorada. Eu disse assim: ‘O Bahia vendeu o TOB’. Quando, na verdade, o que aconteceu não foi isso. O Bahia fez o que quase todos os clubes fazem. O que eu soube que acontece no Vitória, acontece no Inter, no Grêmio, no Flamengo, no Vasco, no Fluminense... Eu sei, porque pesquisei. Nós transferimos a gestão do programa. O programa continua sendo do Bahia. O sócio-torcedor oficial do Bahia é sócio do clube, compra ingressos do clube. Mas quem faz a gestão desse programa – ou seja, quem administra – é, a partir de junho desse ano, a Arena Fonte Nova. Por que a gente fez isso? Porque nossa relação é com a Fonte Nova. O torcedor vai entrar na Fonte Nova. A Fonte Nova, obviamente, quer tratar o torcedor bem, porque, tratando o torcedor bem, vai ser bom para ela, para o Bahia, a torcida vai voltar. Então a gente só entendeu que, com isso, a gente faria com que a Arena entendesse que era importante que ela tratasse bem o nosso torcedor. Foi essa a ideia. Mas a gente não vendeu pura e simplesmente, não passou e disse ‘Agora tome aqui, agora você que cuida e eu não tenho nada com isso’. Ela faz a gestão apenas desse programa. Você tem algo em mente para reverter o protesto do público zero e a campanha dos torcedores de cancelar o TOB? Isso aí, independente de qualquer ação que a gente possa fazer, tem uma fundamental: voltar a ganhar. O torcedor é um apaixonado. A receita para isso é ganhar. A gente tem que conseguir fortalecer o time, ganhar novamente. Acho que a gente está nesse caminho. Acho que o torcedor, como todo apaixonado por qualquer coisa, tem o seu momento de raiva, tem o seu momento de tristeza, mas a raiva passa e, se ele receber em troca o carinho que ele quer, ele volta a frequentar o estádio. Além disso, o que a gente tem que fazer é aprimorar a relação com ele. A gente tem que se comunicar melhor com o nosso torcedor, a Arena tem que dar um tratamento melhor ao torcedor do Bahia... Problemas sempre vão acontecer. Ontem [na última quarta-feira], por exemplo, teve o jogo do Vitória e eu vi depois que teve problema lá com o torcedor na entrada. Isso aconteceu porque o Ministério Público passou a exigir o comprovante da meia entrada. Como isso deve ser permanente, há a possibilidade da redução do preço do ingresso? Essa é uma discussão que a gente até teve hoje pela manhã. Deve acontecer também em Pituaçu (onde o Bahia fará o primeiro jogo em casa na Série A), e a gente tem que se preparar para isso. Esse é um assunto que o Bahia não pode decidir sozinho. Quando for na Arena Fonte Nova, a gente tem que decidir com a Arena e com o próprio Ministério Público. Eu acho que a gente tem que procurar o Ministério Público para saber qual a orientação para, qualquer decisão que a gente tome, comunicar para que não aconteçam problemas, como foi ontem. Há alguma previsão para o aumento do valor do ingresso para o Brasileiro? Não. O pensamento não é aumentar o preço para o Brasileiro. ídolo em 2012, Lomba tem sido questionado pela torcida (Foto: Raphael Carneiro/Globoesporte.com) Em relação ao time, como foi definido o afastamento de Marcelo Lomba, que agora está voltando à equipe? A intenção foi preservar o jogador. O Lomba, como todo o time, não estava vivendo uma boa fase, mas é um ídolo do torcedor. Eu já vi o torcedor – como eu falei, o torcedor é um apaixonado –, eu já vi o torcedor carregar o Lomba, fazer festa para o Lomba, chamar de São Lomba. Mas o torcedor estava chateado. No caso específico do Lomba, a ideia foi preservar o jogador para que ele possa voltar a render. Pelos treinamentos e pelo que eu tenho conversado com Cristóvão, acho que ele volta no domingo. Pelo que está dizendo, não pensa nem em negociar o goleiro? Hoje não. Mas eu quero manter o meu discurso: nenhum jogador é inegociável. Não quero vender ninguém e não quero que ninguém saia vendido. Mas, para vocês não me pegarem amanhã pela palavra, se amanhã surge uma proposta e o jogador tem que sair... Mas a ideia não é que ele saia. Por falar em sair, o pagamento da venda de Gabriel está sendo feito em dia pelo Flamengo? Está. Sem problema nenhum em relação ao Flamengo. Essa nova diretoria que entrou aí tem honrado seus compromissos e não deve nada. Ryder pode voltar aos planos, mas Bahia terá que se acertar com o Fiorentina (Foto: Raphael Carneiro) Quem elaborou a lista dos jogadores que não continuam no clube? Angioni já tinha pedido para sair e Joel também não estava mais no clube. Foi você quem fez a relação? Junto com o Angioni ainda. Foi no último dia dele, no dia da saída dele, e a gente conversou e entendeu que aqueles atletas não nos ajudariam mais. Óbvio que tem atletas ali que a gente preservou, que são atletas da base, que têm o contrato terminando e a gente não tem interesse em renovar. Mas o atleta mostra a cada dia o seu empenho. O Ryder, por exemplo, fez um bom jogo contra o Vitória. É um garoto. Se ele voltar a render... Cristóvão inclusive disse que já conversou com Anderson Barros sobre uma possível continuidade dele... Não tem problema. Se for uma decisão técnica, Cristóvão achar que ele vai nos ajudar, a gente pode reverter essa situação. Os outros atletas, não. Os mais velhos são mais rodados, e a gente vai buscar outra solução. Quem é da base pode ter essa mudança. Mas a questão de Ryder foi só a decisão do Bahia ou conta aí também o pedido da Fiorentina de um valor pela renovação do empréstimo? No caso do Ryder, na última conversa que a Fiorentina teve com a gente, queria dinheiro para renovar e a gente não tinha condição de pagar na oportunidade. Se for o caso de a gente voltar atrás nessa decisão, se houver o pedido de Cristóvão pela avaliação técnica, vamos ter que passar por essa negociação com a Fiorentina. Se for o caso de ter que colocar dinheiro... Outro jogador que não teve muita oportunidade no profissional foi Matheus. Não seria o caso de uma nova avaliação com ele também? Matheus se enquadra nesse mesmo conceito. São jogadores jovens, formados na base. A ideia de colocar como a gente colocou de que são atletas que estão terminando o contrato e a gente não tem interesse, é de preservar o atleta. Se ele render em campo, voltar a ganhar seu espaço, esses atletas formados na base, a gente pode voltar a ter interesse.